Sigo escrevendo,
pois já não posso mais lutar,
fatalmente ferido
impedido de avançar,
pra cá fui trazido,
uma trincheira úmida e escura,
e por aqui sigo,
à visão é turva,
pois a dura realidade não faz curvas.
Ainda vejo parte da guerra,
soldados com armas em punho,
uns já sem munição, mas seguem aguerridos,
de baionetas em mãos,
defendendo bravamente suas posições,
vejo também os que cederam,
joelhos dobrados,
sinal de total rendição.
Manter os registros,
também está difícil,
apenas alguns papéis sujos e amarrotados,
sem falar do buraco que é escuro e apertado
e o mais grave!
A cada dia que passa,
o lápis e o soldado,
ficam mais desapontados.
Não escrevo por coragem,
o que domina por aqui é o medo,
medo de um soldado ferido
que segue assistindo
os que ainda lutam
e ouvindo gritos,
gritos distantes dos feridos.
Marcelo F Carmo