Aqueles que como eu, viveram à infância pegando o final da década de 70 e a de 80 completa, lembrarão desta época de ouro, final da ditadura militar e início da nova democratização no Brasil, uma das características sociais desta época eram os bolos de aniversários e casamentos, eram gigantes, quanto maior, maior era o prestígio dos agraciados em destaque. O bolo gigante, geralmente, não apresentava um bom sabor, era grande, bonito, impactava quem via, mas ao experimentar, Urgh! O sabor, muitas vezes, era péssimo, resultado? Sobrava quase tudo. Com o passar dos anos, percebo uma mudança neste comportamento, os bolos foram ficando menores e os sabores melhores, quase ninguém leva aquela Tupperware de bolo ruim pra casa, pois o bolo bom é pequeno, só da pra comer aquela pequena parcela que lhe cabe e basta, vale mais uma pequena parcela deliciosa do que aquela Tupperware cheia de bolo ruim.
Hoje faço um paralelo do bolo de aniversário com à minha vida, de que vale prolongar isso tudo, lutar por essa fatia de bolo, que pode ser grande, mas e o sabor? De que vale alcançar tantos e tantos anos de idade dessa forma? Uma Tupperware lotada de bolo ruim ou aquele pequeno pedaço saboroso? Ouvir das pessoas sobre a sobrevivência longínqua do físico teórico e cosmólogo britânico Stephen William Hawking (1942-2018), que sobreviveu longos anos afetado por ELA, em nada me anima, à Tupperware lotada do bolo grande e de sabor questionável, não me seduz.
Sinceramente, dentro do que é possível, tenho optado pelo pequeno pedaço, saboroso e incrível, pois à realidade tem mostrado que, a chance do bolo ruim alcançar um sabor agradável, está muito, mas muito distante, da minha realidade. Melhor usufruir desse “pedacinho saboroso” que guardo na memória, à lutar por esse pedaço, que até pode ser grande, mas certamente, pra mim, o sabor não é nada agradável, dispenso (mesmo sem ter esse poder) essa Tupperware do bolo ruim que à vida — supostamente — tem me oferecido, de nada vale à quantidade se à qualidade está severamente ameaçada.
“Vale mais uma pequena parcela deliciosa do que aquela Tupperware cheia de bolo de sabor desagradável.”
Marcelo Ferreira do Carmo