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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Robin Hood’s da Villa Rolim

Atualizado: 4 de nov. de 2020


De novo lá na década de 80 eu e meus irmãos nos aventurando novamente. Era período de férias escolares, janeiro ou julho, não me recordo precisamente, sei que eram férias pela programação da Sessão da Tarde— programa de tv que, nas férias, tinha uma programação infantil. Nesta semana tínhamos assistido o filme do Robin Hood, lendário herói fora-da-lei do folclore Inglês, arqueiro e espadachim altamente qualificado, a história se passava na floresta de Sherwood e em lindos castelos ingleses.

A nossa Sherwood era o nosso quintal e o castelo era a parte mais alta do terreno, à caixa do relógio d’água (hidrômetro), lá ficava o sentinela do castelo.

Além da aventura, que era incrível, as armas utilizadas no filme, nos saltava aos olhos, além do arco e flecha convencionais, aparecia uma outra arma, a besta (pronuncia-se bésta balestra ou balesta) é uma arma com aspecto semelhante ao de uma espingarda e com um arco de flechas adaptados a uma das extremidades de uma haste e acionado por um gatilho o qual projeta virotes - dardos similares a flechas.

Nós que éramos só meio bestas, tivemos a brilhante ideia de construir nossas Bestas, para esse projeto usamos dois pedaços de madeira formando um T, quatro ou cinco pregos para à mira e posicionamento da flecha, flecha essa que era feita com varetas de bambu. Nesse dia meu primo Beto estava conosco e é claro que, também construiu sua arma. O fechamento na construção era um barbante ou elástico para o lançador de flechas. Optamos pelo barbante, pois elástico era coisa rara. Mas o meu irmão Mauricio teve uma brilhante ideia, pegou um shorts que estava no varal e arrancou o elástico. Um besta com uma Besta potente em mãos! Só podia dar besteira! Ele veio todo exibido em minha direção:

- Olha como ficou boa à minha Celo!

Quando virei pra olhar, a Besta dele foi acidentalmente disparada, a flecha veio direto em minha canela, entrou uns 2 cm, a transferência de energia do elástico é bem mais eficiente que a do barbante, na época nosso entendimento não era tão consolidado. Eu era um pouco dramático, vendo aquela flecha em minha perna já abri um berreiro:

- Vou morrer! Vou morrer! Não tira que é pior! — gritava em alto e bom som.

Meus irmãos e meu primo, liderados pelo Mauricio, trataram de tapar minha boca e me arrastaram para o fundo do terreno, pelo corredor esquerdo da casa, evitando assim passar na porta. Ao chegarmos ao tanque de lavar roupas, colocamos minha perna embaixo da torneira e ficamos nesse impasse, eles encostavam na flecha para tirá-la e eu gritava:

- Não, não, não[...], tá doendo!

Foi aí que minha mãe, como sempre, surgiu do nada:

- Que que vocês tão aprontando!

Vendo a flecha em minha perna, sem cerimônia ela já arrancou, só deu tempo de suspirar, me levou pra dentro, deu aquela temperada no ferimento, café pra evitar hemorragia e depois merthiolate. Nesse dia não rolou uma surra pra ninguém, porque tinha o Beto como visita. Minha mãe tinha essa regra ética, se não dá pra apanhar todo mundo não vale. Jogou nossas armas no mato e fim de papo.

Fiquei de molho uns dias, ia pra escola andando de costas, era muita dor, mas tinha um pouco de minha dramaticidade infantil. A nossa carreira de fora-da-lei inglês, que roubava dos ricos para ajudar os pobres, foi subitamente interrompida por uma Besta mal projetada.


Marcelo F CARMO

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