Sou realmente um fanfarrão, já não fico falando na morte pois não posso mais falar, mas ainda escrevo muitÃssimo sobre ela. Ontem tive ela latente aqui ao meu lado e adivinha qual foi a minha reação? Não teve nada de heróico e espiritualizado. Estava em minha poltrona e fui imprudente ao me deslocar lateralmente para à direita e com minha deficiência muscular não consegui voltar, no inÃcio escorei a cabeça no suporte do computador e consegui adiar a queda por uns 10 minutos, em seguida despenquei lateralmente do sofá, nesse instante de queda o fio do carregador do celular quis me enforcar, mas escapou do conector com o impulso da queda. Revisei minha vida toda nestes instantes de agonia e logo me vi seguro da ação da gravidade estatelado no chão e todo urinado, que vexame! O pânico da morte iminente afastou de mim qualquer vestÃgio de dignidade.
Quando no chão e todo mijado tive que tentar ficar calmo, ainda estava vivo, nesse momento me veio na lembrança a história do monge budista que li recentemente, uma história de heroÃsmo e espiritualidade, nada a ver com a minha, esse monge em um protesto no Vietnã na década de 1970 ateou fogo ao próprio corpo e permaneceu imóvel enquanto sua vida era dizimada pelo fogo. A coragem espiritualidade do monge me ajudaram a esperar pelo resgate de minha esposa, estatelado no chão e imóvel — não pela coragem e sim por circunstâncias d’ELA —, escapei mais uma vez.
Marcelo F cARMO