Hoje sonhei que era habitante do universo dos vegetais, um grãozinho de milho de pipoca, ainda era novinho — estava grudadinho em minha mãe espiga — éramos muitos irmãos. Desde muito cedo ouvia de meus irmãos e vizinhos sobre o grande dia, o dia mais esperado; a evolução, à metamorfose, o grã finale, virar uma pipoca! Foi nessa época que ouvi falar, também pela primeira vez, que existia uma turma que não alcançava o objetivo, os piruás — grãozinho de milho que, ao se preparar a pipoca, sobra no fundo da panela sem ‘rebentar‘ ou estourar.
Na vida tenho sido um piruá, a panela não para de esquentar, sigo no fundo, onde infelizmente, a temperatura só aumenta, vejo outros desagraciados como eu. Acima de nós as pipocas felizes e expandidas seguem tocando suas vidas. Não tem porque chorar, pois pra quem nasceu pra ser piruá, o fundo da panela é o seu lugar.
Marcelo F Carmo