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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Para o sol e para a praia, olha aí !

Atualizado: 30 de jan. de 2021


Quando ainda éramos crianças, por problemas de saúde, meu pai foi afastado de seu trabalho, ficou na caixa — esse era o termo usado na época. Houve assim, para os padrões dos anos 80, uma significativa inversão da rotina do lar, ele em casa e minha mãe trabalhando fora. Foi nessa fase que convivemos mais, não era algo natural pra ele, o machismo sempre foi enraizado por aqui, percebia nele uma angústia e consequentemente, falta de paciência para lidar com três crianças. O cardápio restrito e sem muita criatividade, herdei dele. Almoçávamos, depois ele tirava um cochilo ouvindo Roberto Carlos Especial, programa de rádio que só tocava o Rei! Logo já era hora de minha mãe chegar.

A outra fase que estivemos mais próximos, foi dos meus 11 aos 13 anos. Nesta fase ele não estava mais na caixa, já havia se aposentado definitivamente. E aí decidiu vender produtos no centro de São Paulo, rua José Paulino, rua Prates e estação da Luz. Primeiro foi o Mauricio, meu irmão mais velho, logo ele arrumou outro trabalho, aí foi minha vez. Eu já iniciei com um impasse, não é que não gostasse de trabalhar, não é isso, estava na 6* série, e às aulas de educação física, à aula mais legal, era fora do horário regular, quem estudava à tarde fazia EF pela manhã, horário que eu estava trabalhando. Minha indignação teve que ser superada. O produto que vendíamos eram óculos escuros, vem daí minha fascinação por óculos de sol ou para sol. À qualidade era horrível, mas não tínhamos muitos parâmetros, no inicio fiquei como um estagiário, só observando, logo depois fui pra outro ponto. Quando o dia amanhecia chuvoso eu tinha aquele ímpeto de felicidade, mas logo lembrava que a quadra da escola não era coberta! De segunda à sexta-feira, era tranquilo, sai de lá 12:30 encontrava meu primo Beto, que também trabalhava com o pai dele, meu tio — irmão do meu pai — que nessa época já não se falavam, motivos que nunca soubemos, morreram sem se falar. Nos encontrávamos secretamente e vínhamos juntos no trem. No sábado era terrível, por dois motivos, o horário que era muito flexível, sempre pra mais, e o grande número de jandirenses que visitavam às lojas do Bom Retiro. O que isso tem a ver? Tem muito, com o tempo, passei a ser motivos de chacotas na escola! Com isso, quando dava tempo, eu me escondia, tinha vergonha, não era visto como um trabalho digno.

A rotina era assim, geralmente na segunda-feira íamos até à rua 25 de Março comprar as mercadorias e voltávamos para nossos pontos de vendas, lembro da felicidade em minhas primeiras vendas solo, e também das minhas tristezas, quando o rapa me pegou.

O tempo é inexorável, não viveu o momento lascou, perdi as oportunidades que tive para conviver com o meu pai, hoje repenso minha responsabilidade nessa relação e vejo que perdi bons momentos de convivência com o senhor Geraldo Lopes do Carmo, meu pai, eternizo nesta crônica meus erros e acertos como seu filho. O nosso slogan segue na memória; “Para o sol e para a praia, olha aí!”


Marcelo F Carmo

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