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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Os novos senhores da escravidão pós-moderna

Atualizado: 29 de out. de 2020


E não foi que um dia até acreditei que a tal evolução tecnológica — principalmente nas relações trabalhistas —era real! Acreditei que trariam uma equiparada — mesmo que utópica —divisão de oportunidades de vida digna para todos. Mas as relações humanas seguem como sempre, quem tem à oportunidade de tirar vantagem dos que estão na prateleira de baixo — certamente o fará —, existem exceções, mas são raras. Não despertei pra essa reflexão sozinho, ontem vi no programa Gregnews — humor político e jornalístico, produzido e apresentado por Gregório Duvivier; jornalista , humorista, escritor, poeta, diretor, ator e outro tantão de coisas, fica a dica, um dos melhores cronistas contemporâneo — no episódio é apresentado uma minuciosa investigação das relações trabalhistas — o que os donos e criadores de app’s não veem como tal — entre os aplicativos de entrega de alimentos, que seguem em uma avassaladora monopolização dos delivery’s; e o lado mais vulnerável da corda, os motoboy’s independentes — que quer dizer! — sem direito a nada.

IFood, Rap, Uber Eats são os novos senhores da escravidão velada de um mundo pós-moderno (sociedade líquida, assim nomeada pelo sociólogo Zygmunt Bauman). Num mundo líquido nada é duradouro, tudo ganha novas formas. Mas mesmo com toda a volatilidade, alguns padrões se mostram imutáveis— a relação perniciosa senhor e escravizados é uma delas (não se espante, ela nunca deixou de existir, simplesmente se aprimorou, na versão atual o critério não é exclusivamente racial, mas sim social).

O entregador independente tem que comprar mochila e jaqueta (com logo da marca de seu sinhô) e é claro um smartphone com um plano de internet 4G ativos. Já imaginou! — é como o escravo pagando o seu sinhô pela enxada — lhe pareceu absurdo o segundo exemplo? Pois é isso que está por trás dessas empresas que chamam seus colaboradores de empreendedores individuais. “Se vocês quiserem — e quem está do outro lado, têm tão pouca importância e voz, quanto os escravos do século XIX — aceitem as condições que estão em letras miúdas — aquela parte que quem está aflito em busca de um emprego não lê —, ou passe a vez, pois à fila de interessados não têm tempo a perder, vamu, vamu, ...”Esse é o discurso dos filhos de uma elite que perpetua no poder há séculos e hoje seguem explorando as prateleiras de baixo, como seus antepassados num passado nem tão distante. O que tem de diferente no modus operandi; é que hoje eles não têm mais que bancar os custos do transporte dos escravos, à moto e o combustível são por conta do escravizado.

O que chamam de Uberização da economia, têm muitas semelhanças com a escravidão do século XIX — uma nova roupagem, mas o objetivo segue inabalado. Eles voltaram ou sempre estiveram aqui?


Marcelo F Carmo

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