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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

O barbeador do Seu Geraldo.


Relaxado sempre fui, mas de uns anos pra cá tenho estado — também — barbudo. Não quero dizer com isso que barba seja sinal de desleixo, não é nada disso, mas a barba nesses últimos cinco anos, ganhou um novo glamour. Não foi sempre assim, na primeira década do século XX. O rosto liso virou sinônimo de higiene e beleza. Mas a partir dos anos 1960, a barba voltou a ser largamente utilizada nos países ocidentais graças ao movimento hippie e à cultura gay. Durante o século XX, o rosto lisinho virou sinônimo de civilidade e higiene. Meu pai também pensava assim — boa aparência! sempre de barba feita. Não segui o seu exemplo. Não lembro de meu pai barbudo! — tinha uma preocupação excessiva com isso. Fazer a barba era um desejo de menino que queria virar um homem — um marco existencial. Tenho lembranças dele se preparando para barbear-se; tinha uma mini bacia de alumínio, um pincelão grosso — o nome não deve ser pincel, mas foi a melhor descrição que consegui —, punha sabonete raspado na baciazinha e mexia com o pincelão até fazer uma espuma bem espessa. O barbeador era aquele que encaixava a gilete inteira — o monopólio é tão poderoso que, lâmina de barbear virou gilete. Aqui abro um parênteses para homenagear King Camp Gillete (1855- 1932) inventor norte-americano conhecido pela invenção da gilete — que antes dele! era simplesmente conhecida como lâmina de barbear.

Na minha casa não tinha pia no banheiro, mas tinha aquele espelho que é um armário embutido. Meu pai punha os acessórios numa banqueta — baciazinha de espuma, pincelão e vasilha com água limpa — e iniciava o ritual; lâmina deslisando no sentido do fio — para baixo — aquela chacoalhada na água limpa, três ou quatro batidinhas na borda da vasilha com água — toc, toc, toc,... — lâmina na água, novamente pinceladas de espuma na face e novos ciclos metódicos. Quando sessavam-se os “toc,toc”, surgia o Seu Geraldo — entrando pela porta da cozinha — de cara lisa e testa também, pois não lembro dele antes da calvície. Já imitei esse ritual, mas nunca fui fã da cara lisa. Até hoje prefiro a cara peluda, da uma disfarçada no meu cabeção e barbeiro atualmente, já é mais acessível — a quase todos.


Marcelo F Carmo



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