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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Meu Quixotismo

Atualizado: 28 de out. de 2020


Mais um clássico da literatura mundial que conheci neste mal momento da vida. Dom Quixote de la Mancha, livro escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes. O título e ortografia originais eram; ‘El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha,’com sua primeira edição publicada em Madrid no ano de 1605. Passaram só quatro séculos para que esse clássico despertasse o meu raso interesse por literatura. Até que lia umas coisinhas, mas era muito limitado ao meu mundinho.

Depois da rasteira que a vida me deu, e ainda tenho que me considerar sortudo, pois dores, angústias e frustrações, são distribuídas — tenho dúvidas se este é o termo correto — desde que o mundo é mundo. E na minha vez, já pude contar com internet e com meu bom companheiro YouTube. Assim começa minha história com Dom Quixote, sou muito fã de Ariano Suassuna (1927-2014) dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor brasileiro. Ele têm muitas aulas espetaculares no YouTube, e em algumas, fez referência a esse clássico.

Ah! — que história linda! Um agricultor de meia idade que decide ressignificar sua vida inspirado no que leu nas fantasiosas histórias de cavaleiros andantes. Eram como os Vingadores do século XVII.

“Mas mano, o que você tem a ver com Dom Quixote? “- “Calma lá!” — “Vai ter que ler pra entender?” — “não e sim!”

Vou tentar elucidar. A loucura e a razão dependem do olhar de quem vê. Dom Quixote parte para sua odisseia, convicto de seus ideais, levar justiça pelo mundo, o que para os que o rodeiam, não passa de uma grande loucura. Mas ele, tendo seu fiel escudeiro Sancho Pança, que às vezes acredita e também desacredita, segue seguro no comando da missão, assim partem para suas insanas aventuras. A nobreza de Dom Quixote e a baixeza de Sancho Pança os completam. Uma mistura de insanidade e realidade, às armas que eles dispõem, são espadas e armaduras enferrujadas e até panelas viram elmos.

Voltemos ao século XXI, não sou um fidalgo e tão pouco acredito ser um cavaleiro andante — Vingador. Mudei o rumo da minha vida involuntariamente, e fui obrigado a me apropriar da literatura pós moderna para tentar sobreviver e me ressignificar. Fiz o caminho inverso do Dom Quixote, vivia na fantasia e despertei pra realidade. Minha odisseia foi inspirada em Nietzsche, Schopenhauer, Foucault, Bauman entre outros, mas estes são os capitães de minha cavalaria andante, são eles que me inspiram. Falar de Dom Quixote sem falar de Sancho Pança, seria um despautério, tenho o meu, melhor dizendo, à minha — essa odisseia não existiria sem você, minha fiel escudeira, o toque de realidade e generosidade, que faz dessa insana odisseia, suportável.

Sigo adiante, minha montaria não é tão emocionante, quanto o fiel e aguerrido Roucinante, sigo desconfiante montado em meu sofá, usando a imaginação e palavras para ressignificar minha existência, minha odisseia pode atingir lugares longínquos, graças a internet, a estrada que ainda posso cavalgar.

Que minha aventura, seja análoga a esse clássico da literatura, nela o personagem principal, encerra sua jornada em seu leito. E suas ideias seguem vivas transformando vidas, através do poder de suas loucuras razoáveis. A razão e a loucura estão nos olhos de quem vê! Viva Dom Quixote!


Marcelo F Carmo


*Ilustração: Don Quixote é um esboço de 1955 de Pablo Picasso, do herói literário espanhol e de seu companheiro, Sancho Panza. Foi publicado na edição semanal de 18 a 24 de agosto do jornal semanal francês Les Lettres Françaises, em comemoração ao 350º aniversário da primeira parte do Don Quixote de Cervantes.

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