Medinhos
- Marcelo F Carmo
- 8 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de out. de 2020

Não tenho muitas lembranças de nossa casa antiga. Minhas lembranças são bem vagas — o que lembro é da transição para a casa nova — ou melhor dizendo, a casa de laje (era assim que a chamava) sendo construída. À primeira casa foi construída de tijolinhos de barro, com telhado de uma caída, telhas de barro — aquelas com sobreposição nos encaixes. Casinha pequena, dois cômodos e uma areazinha externa que dava acesso ao banheiro (fora da casa). A casa de laje foi construída ao lado, já era algo mais moderno, devia ser 1979 ou 1980. Fazer uma casa era uma tarefa dificílima para dois trabalhadores assalariados (coisa que não mudou), meus pais trabalharam muito e administraram com fina destreza os poucos recursos que dispunham. Alimentar cinco pessoas e tocar uma obra, realmente era uma tarefa que beirava o colapso, comer ou concluir a obra? — foi por etapas, mas eles conseguiram.
A casa nova tinha três cômodos, quarto dos meus pais, sala/cozinha e nosso quarto, respectivamente. Na porta de entrada uma areazinha retangular, com o banheiro à direita (novamente banheiro externo). Lembro de gritarmos dentro da casa vazia e sem piso, só pra ouvir o eco. Uma lembrança bem marcante, é a do eletricista, o ’Seu Antônho Branco’; era um senhor albino — o primeiro que conheci. Era um conhecido do meu pai lá de Itapevi, onde também morava meu ‘tio Amado’, o responsável pela obra— o nome correto dele era Amador — um grande amador da vida, mas não amador em sua profissão, era sim um exímio profissional. Escolheram chamá-lo simplesmente por Amado, o que também lhe cabia perfeitamente, um cara tímido, mas muito amado. Acho que era esta à lógica. Um amador muito amado, este era meu tio Amado.
Casa nova concluída, agora tínhamos um quarto só para nós três, mas um problema que me afligia desde sempre, não foi sanado com a mudança de casa. O banheiro na parte externa; sim! — eu tinha medo de abrir à porta pra ir sozinho fazer xixi à noite. Coitada de minha mãezinha, sofria com meus medinhos noturnos. Descia de minha beliche, sem acender à luz, ia na ponta dos pés até o quarto dela, abria à porta com cuidado, minha mãe sempre deitada do lado esquerdo da cama, chegava bem pertinho do rosto dela e dava uns tapinhas de leve e sussurrava; “mãe, mânheeee..., quero fazer xixi. Minha mãe acordava assustada— mas sempre muito solicita —; “que Celo, mas eu já não te falei pra não ficar bebendo água antes de dormir!” Levantava sonolenta, abria à porta e ficava na areazinha me esperando. Minha mãe me ajudando enfrentar meus medinhos desde sempre.
Marcelo F Carmo
A gente vai ficando mais velho, olhando para trás, e pensando em como coisas simples que nossos pais nos fizeram foram tão grandes na construção do nosso “ser” como pessoas. (Linda lembrança)
Linda historia mãe são todas iguais lembro da minha sempre me socorria dos meus medos.Um abraço amigo.