Mappin
- Marcelo F Carmo
- 7 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de out. de 2020

O Mappin era uma das grandes Lojas de Departamentos nos anos 90 — à matriz era no espetacular prédio localizado na praça Ramos de Azevedo, em frente ao teatro municipal de São Paulo —, tinha também uma filial na avenida São João — fundos para Barão de Limeira, loja com duas entradas. Trabalhando pelo centro, era um lugar que sempre passava pra dar uma espiada nas — sedutoras — vitrines.
No ano de 1994 — vivendo mais uma fase de desempregado — arrumei um trabalho de estafeta no depósito do Mappin — ainda procurava-se trabalho nas portas das empresas — localizado na zona oeste de São Paulo — perto da CEAGESP —, estafeta era à vaga, um mensageiro, minha tarefa era comunicar à matriz— praça Ramos — ao depósito, não existia internet. O Centro de Processamento de Dados ficava na matriz. Meu horário de trabalho era curioso — 7:45 às 17:18 — nunca entendi os motivos. A rotina era entrar na Praça Ramos, recolher uma série de documentos e uma mala de relatórios das entradas e saídas das unidades e trazer para o depósito, de ônibus que saia da praça do Patriarca-Ceagesp, era de um terminal pra outro — dormia que até babava. À tarde era o caminho inverso, as notas fiscais de entradas e saídas do depósito pra serem processadas no CPD.
O relógio de ponto era eletrônico — uma grande inovação para à época —, o crachá era o cartão de ponto, que não aceitava grandes adiantamentos na entrada e muito menos antecipações na saída, o que gerava confusão ao sair do departamento, que era longe do relógio de ponto DIMEP — Dimas Mesquita Pimenta, tradição em relógios de ponto (mecânicos e eletrônicos).
Foi o único emprego que fui promovido, passei de estafeta para auxiliar administrativo, um mensageiro que camelava apenas no depósito — que era enorme, um quarteirão gigante, quente e pouco ventilado.
Nessa fase foi que vivi uma desventura que justifica esta crônica. Como o horário de bater o ponto era 17:18, quando dava 17 horas, tínhamos como estratégia ir ao banheiro pra dar aquela enrolada — pois o setor era de uma disposição, que o chefe ficava numa redoma de vidro com vista para todas as mesas —, já que enrolar na mesa era pedir para o Sr Ângelo chamá-lo em seu aquário e dar aquele esporro.
Numa sexta-feira, véspera de um feriado que cairia na segunda-feira — e eu não tinha nenhum projeto especial para desfrutar — estávamos eufóricos e ansiosos para ir embora. Nesse dia perto das 17 horas fui para o banheiro dar uma lida no jornal — os classificados de jornais tinham anúncios de garotas de programa que mexiam com minha mente pervertida de 19 anos — e esperar dar 17:15 para dar um tchau e bom feriadão chefe — pura falsidade.
Quando fui abrir à porta , à fechadura quebrou — só pra lembrar, não existia telefone celular — e agora Marcelo? Tive que dar uns socos na porta e pedir socorro. Os primeiros que ouviram meu pedido de socorro foram os colegas de departamento. Logo gritaram para que tirasse os pinos da dobradiça — sem ferramentas é impossível — o que se mostrou inviável. O que rolou depois, deu tempo de ler os classificados com mais atenção e sem pressa. Os bombeiros civis do depósito tiveram que subir pelo telhado, destelhar o banheiro, retirar o forro, pra aí me passar um martelo e uma chave de fenda pra tirar o pino da dobradiça e assim abrir à porta. Nisso já eram umas 19 horas — o que não me atrapalhou muito, já que, como disse anteriormente, não tinha nada agendado para o feriadão —, só ficamos eu, os bombeiros e o chefe — com aquela cara de bunda —, pois ele tinha que fechar o departamento. Foi minha última e única promoção, Fiquei por lá 11 meses e pedi demissão, o salário era muito ruim. Sai de lá devendo até o banco Nacional — era o patrocinador do Ayrton Senna — que depois faliu. Acho que contribui para!
Marcelo F CARMO
Comentários