Fé! Um ponto de vista
- Marcelo F Carmo
- 1 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de fev. de 2021
Esse lance de fé em um ou múltiplos deuses, realmente depende do ponto de vista de cada indivíduo. Já fui mais otimista — poucas vezes me questionei sobre questões raciais e sociais —, tinha àquela pseudo-preocupação herdada do meu cristicinismo, nunca me perguntei: porque deus evangelizou os europeus e deixou a cargo deles evangelizar o resto do mundo? E tão pouco pensava nas outras religiões! Não me classifico como — muito — pessimista, me classificaria como realista, mas sei que todo e qualquer conceito que atribuo a mim, não pode ser levado a sério, pois sempre estará contaminado com minha vaidade e alterego. Mas vou seguir tentando amenizar os impactos desses meus sentimentos. “Mas nem todo mundo é feliz nessa fé absoluta” — trecho da canção Duas de Cinco do Criolo. É! tratando de fé, o absoluto não se encaixa.
Antes de testemunhar — testemunha ocular sem participar — à pandemia da COVID 19, já vivia minha própria pandemia: DMN ou ELA, doença incapacitante que em alguns anos — quando não mata — deixa o paciente — desconfortável e impaciente — e seu cuidador(a) em uma quarentena obscena. É nesse ponto, que entra o ponto de vista FÉlico — já não possuo —, trata-se de uma hipótese — frágil, inócua e um tanto presunçosa —, mas vamos refletir nela. Diante dELA, vivendo minha quarentena, já sem nenhuma fé em nada metafísico, começo acreditar e disseminar que tudo isso é para o meu bem. Deus vendo à minha solidão — para meu bem — resolveu deixar todo mundo em casa, para que assim, eu não possa mais me sentir excluído do mundo. Como escreveu Voltaire em seu livro O Cândido: “tudo está acontecendo para o meu bem” — trata apenas de uma providência metafísica para amenizar minhas angústias.
Um ponto de vista — FÉlico — um tanto egocêntrico e presunçoso não? Pois é! pra muitos e muitos, essa é a tal fé absoluta que eu e outro tanto de sofredores pelo mundo afora deveriam cultivar ou manter nesses momentos finais! Falhei! Acredito ao mesmo tempo que desacredito, ser — hoje — um ser humano menos egoísta. Assim como Cândido, o personagem de Voltaire, acredito e aceito meus males e angústias sem mais — quase — nenhum sentimento de um ser especial e imprescindível. Só mais um na fila do pão. Fecho esta crônica com mais um trecho da canção Duas de Cinco do Criolo:
“Calma, filha
Que esse doce
Não é sal de fruta
Azedar é a meta
Tá bom ou quer mais açúcar?”
Marcelo F Carmo
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