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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Apólogo do Coração

Atualizado: 20 de mar. de 2021


O Coração sentindo-se cansado de tantas novas tarefas que lhe são — indevidamente — atribuídas, desabafou com o Pulmão:

- Está muito pesado pra mim! Pois além de bombear o sangue pra todos os outros órgãos, ainda tenho que lidar com amores e paixões!

O Pulmão — que nunca para — é o tempo todo inflando e murchando, ficou pensativo ouvindo as reclamações do seu vizinho. Aí respondeu:

- A culpa disso tudo, é por conta da imagem bonitinha que criaram de ti. Você nem é tão bonito quanto à versão que criaram de você! Eu por exemplo sou bem mais bonito na realidade — pareço duas cove-flor deitadinhas! Você é feio como uma beterraba!

Os dois irmãos gêmeos Rins — direito e esquerdo — gritaram lá de baixo;

- Você é o bonitinho, o romântico, mas sem a gente pra filtrar o seu ‘sanguinho’ não há amor que resista!

A vesícula biliar — tão desprezada — murmurou:

- Eu ajudo com a bile, para o processamento e transformação da energia pra nós todos, mas uns até vivem sem mim. Não sou tão imprescindível como vocês!

O fígado também se interpôs:

- Oh dona Vesícula Biliar! Somos da mesma equipe, eu também ajudo na digestão, mas sem mim ninguém vive!

- Ops! — gritou o Baço indignado — Injustiçado sou eu! Ninguém me valoriza e poucos sabem que existo! Sou o maior órgão do sistema linfático — que ajuda na defesa do organismo. Moro aqui na região superior esquerda do abdômen — nosso mundo —, meu vizinho da esquerda é o Estômago e o de baixo o gêmeozinho Rim esquerdo. Tenho duas faces mesmo, não tô nem aí! uma diafragmática, que se relaciona com o Diafragma e outra visceral, que se relaciona com o Estômago e o Cólon transverso e o Rim esquerdo — gêmeozinho chato! E pra não esquecer, esse escritor deveria mudar o título deste texto para: “O apólogo do lindo Baço!”

Ouviu-se um grito vindo de trás do Estômago, era o Pâncreas

- E eu aqui! Oh, oh, aqui ó, uma glândula esquecida. Sou responsável pela produção de insulina e pela absorção de enzimas da digestão. Assim como a maioria de vocês! Só lembram de mim quando falho.

O Estômago convicto de seus méritos e importância só suspirou:

- Nem vou falar nada — tô suave!

Os demais órgãos não se indisporam com a reclamação do Coração egocêntrico. Foi então que lá de baixo ouviu-se o grito uníssono dos Intestinos — o delgado e o grosso —:

- Pode parar com esses alaridos aí em cima! Somos nós que resolvemos todas as ‘merdas’ que vocês fazem!

O silêncio foi ensurdecedor. Até que o Coração voltou atrás em suas indagações:

- O culpado é o Cérebro! Todos já ouviram falar dele, mas ele nunca aparece por aqui, só sentimos e obedecemos suas ordens.

Uma voz cheia de ecos e ressonâncias vindo de cima desceu pela laringe, traqueia e faringe ecoando no abdômen:

- Queridos coleguinhas, aqui não vale nenhum modelo democrático. Quem manda sou eu — Coraçãozinho e sua turminha —, amores e desamores e tudo que se faz nesta indústria chamada corpo humano, é comigo. Somos monocráticos.

O Coração ficou nervoso e bateu mais forte, gerando aquela reação em cadeia — popularmente conhecida como AGONIA. E seguimos nos enganando — às vezes —, quem ama é o chefe supremo Cérebro, o Coração e a turminha de baixo só seguem às ordens.


Marcelo F CARMO

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