top of page
  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

POEMA DE NATAL Vinicius de Moraes - Rio de Janeiro , 1946


Para isso fomos feitos: 

Para lembrar e ser lembrados 

Para chorar e fazer chorar 

Para enterrar os nossos mortos - 

Por isso temos braços longos para os adeuses 

Mãos para colher o que foi dado 

Dedos para cavar a terra. 


Assim será a nossa vida: 


Uma tarde sempre a esquecer 

Uma estrela a se apagar na treva 

Um caminho entre dois túmulos - 

Por isso precisamos velar 

Falar baixo, pisar leve, ver 

A noite dormir em silêncio. 


Não há muito que dizer: 


Uma canção sobre um berço 

Um verso, talvez, de amor 

Uma prece por quem se vai - 

Mas que essa hora não esqueça 

E por ela os nossos corações 

Se deixem, graves e simples. 


Pois para isso fomos feitos: 

Para a esperança no milagre 

Para a participação da poesia 

Para ver a face da morte - 

De repente nunca mais esperaremos... 

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas 

Nascemos, imensamente.

13 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Não sei…

Não sei… Se a vida é curta Ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palav

Que país é este?

1 Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento. Mas já soube datas, guerras, estátuas usei caderno "Avante" — e desfile

Socorro

socorro, eu não estou sentindo nada. nem medo, nem calor, nem fogo, não vai dar mais pra chorar nem pra rir. socorro, alguma alma, mesmo que penada, me empreste suas penas. já não sinto amor nem dor,

bottom of page