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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Osmose educacional, uma utopia.

Atualizado: 16 de jan. de 2021



Osmose é o processo em que a água move-se — sem gasto de energia pela célula — do meio menos concentrado para o mais concentrado através de uma membrana seletivamente permeável. Também conhecido como processo passivo. No cotidiano pode ser definida como uma forma de resolver problemas ou aprender através do subconsciente, sem contato fisico ou auditivo.

A osmose educacional nasce da ilusão de que é possível aprender-se algo num processo passivo — não necessitando de quase ou nenhum esforço do amontoado de células desinteressadas, também conhecida como jovens humanos. Não estou aqui defendendo uma bandeira liberalista que defende que, o fracasso da educação pública brasileira — só têm como culpados, os jovens estudantes negligentes — não é nada disso, quero seguir numa análise mais profunda. Usarei como exemplo de sucesso educacional — muito doloroso por sinal — à história da jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai de 22 anos. Malala foi a pessoa mais nova a ser laureada com um prêmio Nobel. É conhecida principalmente pela defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação em sua região natal — localizada na região nordeste no Paquistão — onde os talibãs locais impedem as jovens de frequentar à escola. Desde então, o ativismo de Malala tornou-se um movimento internacional. A família de Malala gere uma cadeia de escolas na região. No início de 2009, quando tinha 11-12 anos de idade, Malala escreveu para a BBC um blog sob pseudônimo, no qual detalhava o seu cotidiano durante à ocupação talibã, as tentativas destes em controlar o vale e os seus pontos de vista sobre a promoção da educação para as jovens no vale do Swat. No verão seguinte, o New York Time publicou um documentário sobre o cotidiano de Malala à medida que o exército paquistanês intervinha na região. A popularidade de Malala aumentou consideravelmente, dando entrevistas na imprensa e na televisão e sendo nomeada para o prêmio internacional da Criança pelo ativista sul-africano Desmond Tutu. Na tarde de 9 de outubro de 2012, Malala entrou numa van escolar na província de Khyber Pakhtunkhwa. Um homem armado chamou-a pelo nome, apontou-lhe uma pistola e disparou três tiros. Uma das balas atingiu o lado esquerdo da testa e percorreu o interior da pele, ao longo da face e até ao ombro. Nos dias que se seguiram ao ataque, Malala manteve-se inconsciente e em estado grave. Quando à sua condição clínica melhorou foi transferida para um hospital em Birmingham na Inglaterra. Em 12 de outubro, um grupo de 50 clérigos islâmicos paquistaneses emitiu uma fátua — pronunciamento legal emitido por um especialista em lei religiosa, sobre um assunto específico — contra os homens que a tentaram matar, mas os talibãs reiteraram à sua intenção de matar Malala. A tentativa de assassinato desencadeou um movimento de apoio nacional e internacional. A Deutsche Welle — Rede pública de rádio e televisão internacional da Alemanha — escreveu em 2013 que Malala se tornou "a mais famosa adolescente em todo o mundo".

Uma garota de 12 anos, que a partir de sua indignação, contra um grupo de radicais que mantém controle de parte do Paquistão causando terror geral — e ainda pior para as mulheres. Não há quem imagine que ela poderia sobreviver e causar tamanho impacto em seu país e tão pouco no mundo. Mas foi isso que aconteceu! — O esforço e empenho dessa jovem venceu as barreiras do impossível. E hoje aqui no Brasil um professor e escritor falido usa-a como um exemplo de que educação não se faz por osmose. Nem todos tem ou terão à virtude de Malala. Existem pessoas que são únicas — e Malala está nesse grupo. Quero aqui refletir sobre, qual o preço estamos dispostos a pagar — individualmente e como nação — para que tenhamos uma educação de qualidade?

Muitas vezes, o que se tem discutido é uma educação fundamental utópica, acreditamos — ou fingimos — que à escola era boa em nossa época e que éramos modelos de estudantes aplicados. É muito raro um adulto que assuma que à escola era uma bosta e que só concluiu o ensino fundamental por uma exigência de seus pais — também adultos fingidos que só lembram de suas virtudes (uma característica natural humana). Quase nada mudou, pois para estudar, precisamos abdicar de algo que nos é mais prazeroso — o tempo de vida é irrevogável — e sem hipocrisia, a vida tem um grande catálogo de delícias que amamos mais que uma escola. Então é sempre uma escolha e escolher e levar a fundo às escolhas, invariavelmente, gera um certo desconforto. Não sejamos hipócritas, aprender pressupõe aptidão e grande — e às vezes até dolorosa — dedicação.

Quantas crianças de 12 anos tem a maturidade e à genialidade de Malala, para arriscar a própria vida na luta pelo direito à uma educação relevante para todos?

A biologia, nesse caso, não imita a vida — vida intelectual é claro! Não adianta colar em vossos professores para alcançar uma possível transferência de conhecimentos — sem gasto de energia e abdicação — aqui à osmose só se dá com altas doses de abdicação e um sistema educacional mais atraente e eficiente. Educar é trocar.


Marcelo F Carmo








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