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Obrar- Manoel de Barros

  • Foto do escritor: Marcelo F Carmo
    Marcelo F Carmo
  • 13 de dez. de 2019
  • 1 min de leitura

Naquele outono, de tarde, ao pé da roseira de minha

avó, eu obrei.

Minha avó não ralhou nem.

Obrar não era construir casa ou fazer obra de arte.

Esse verbo tinha um dom diferente.

Obrar seria o mesmo que cacarar.

Sei que o verbo cacarar se aplica mais a passarinhos

Os passarinhos cacaram nas folhas nos postes nas pedras do rio

nas casas.

Eú só obrei no pé da roseira da minha avó.

Mas ela não ralhou nem.

Ela disse que as roseiras estavam carecendo de esterco orgânico.

E que as obras trazem força e beleza às flores.

Por isso, para ajudar, andei a fazer obra nos canteiros da horta.

Eu só queria dar força às beterrabas e aos tomates.

A vó então quis aproveitar o feito para ensinar que o cago não é uma

coisa desprezível.

Eu tinha vontade de rir porque a vó contrariava os

ensinos do pai.

Minha avó, ela era transgressora.

No propósito ela me disse que até as mariposas gostavam

de roçar nas obras verdes.

Entendi que obras verdes seriam aquelas feitas no dia.

Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas

desprezíveis

E nem os seres desprezados


Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros

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