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A última flor

  • Foto do escritor: Marcelo F Carmo
    Marcelo F Carmo
  • 9 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

A décima segunda guerra mundial, como todos sabem, trouxe o colapso da civilização.

Vilas, aldeias e cidades desapareceram da terra.

Todos os jardins e todas as florestas foram destruídas.

E todas as obras de arte.

Homens, mulheres e crianças tomaram-se inferiores aos animais mais inferiores. Desanimados e desiludidos,

os cães abandonaram os donos decaídos.

Encorajados pela pesarosa condição dos antigos senhores do mundo, os coelhos caíram sobre eles.

Livros, pinturas e música desapareceram da terra

e os seres humanos ficavam sem fazer nada, olhando no vazio. Anos e anos se passaram.

Os poucos sobreviventes militares tinham esquecido o que a última guerra havia decidido.

Os rapazes e as moças apenas se olhavam indiferentemente, pois o amor abandonara a terra.

Um dia uma jovem, que nunca tinha visto uma flor, encontrou por acaso a última que havia no mundo.

Ela contou aos outros seres humanos que a última flor estava morrendo.

O único que prestou atenção foi um rapaz que ela encontrou andando por ali.

Juntos, os dois alimentaram a flor e ela começou a viver novamente.

Um dia uma abelha visitou a flor. E um colibri.

E logo havia duas flores, e logo quatro, e logo uma porção de flores.

Os jardins e as florestas cresceram novamente. A moça começou a se interessar pela própria aparência.

O rapaz descobriu que era muito agradável passar a mão na moça.

E o amor renasceu para o mundo.

Os seus filhos cresceram saudáveis e fortes e aprenderam a rir e brincar.

Os cães retornaram do exílio.

Colocando uma pedra em cima de outra pedra, o jovem descobriu como fazer um abrigo.

E imediatamente todos começaram a construir abrigos. Vilas, aldeias e cidades surgiram em toda parte. E a canção voltou para o mundo.

Surgiram trovadores e malabaristas alfaiates e sapateiros

pintores e poetas

escultores e ferreiros

e soldados

e soldados

e soldados

e soldados

e soldados

e tenentes e capitães

e coronéis e generais

e líderes!

Algumas pessoas tinham ido viver num lugar, outras em outro. Mas logo as que tinham ido viver na planície desejavam ter ido viver na montanha.

E os que tinham escolhido a montanha preferiam a planície. Os líderes, sob a inspiração de Deus, puseram fogo ao descontentamento.

E assim o mundo estava novamente em guerra.

Desta vez a destruição foi tão completa

Que absolutamente nada restou no mundo.

Exceto um homem

Uma mulher

E uma flor.


James Thurber.

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