Medo

A palavra medo provém do termo latim metus. Trata-se de uma perturbação angustiosa perante um risco ou uma ameaça real ou imaginária. A primeira lembrança de medo que tenho, vem da minha infância, era o medo de perder minha mãe, esse era um sentimento muito forte, com o avançar da idade me recordo ter medo de um tipo de pensamento que tive muitas vezes, vou explicar: eu costumava pensar numa regressão cronológica da minha vida até o marco zero, nascer ou não nascer? Confuso né? Vou explicar melhor, eu começava pensar: “E se eu não tivesse nascido? Essa realidade atual não existiria! E essa percepção de mundo e vida? Sem existir o Marcelo!”Ao fazer essa regressão de pensamentos, em certo ponto, travava, pois com 7 ou 8 anos não tinha parâmetros para tão complexos pensamentos, fugia deles, tinha medo desse espectro misterioso da origem da vida ou da ausência dela.

Já na adolescência esse medo esteve distante da minha vida, sentia-me indestrutível, medo era para os fracos. Depois dessa curta fase de super-herói fui aprendendo administrar os medos que a vida apresentava, sempre valorizando à vida, mas sem aquele medo exagerado da morte.

Em 2014, achando ter uma hérnia de disco, iniciei uma longa investigação médica que culminou nesta consulta do dia 07/11, neste dia o médico, após me examinar e verificar uma eletroneuromiografia personificou o medo em um olhar. Naquele momento não entendemos direito, tanto eu como minha esposa, não tínhamos noção da bomba que havia caído em nossas vidas. Depois de mais 11 dias internado sai de lá com à certeza de que dias piores viriam.

Sobreviver com ELA traz para mim alguns sentimentos que desconhecia, por exemplo: saudade do que era ruim, vou explicar, hoje tenho saudades de 2014 e 2015, essa doença é tão devastadora, que aqueles primeiros sintomas — terríveis —, vão deixando de ser, se comparados com a atual realidade. Se sobreviver, terei saudades do meu atual — péssimo — momento da vida? Hoje esse é o pensamento que tenho medo. E não tem nada a ver com ter ou não ter fé! Ter fé não isenta ninguém de ter medos e incertezas. Trata-se da realidade nua e crua de um sentenciado a morte — em alguns casos lenta e meticulosa. Sigo com sinceridade nos sentimentos, sem hipocrisias.

De forma dolorosa, tenho adquirido mais medo de viver com — do que de morrer sem — ELA.

Marcelo F Carmo

09/10/2018