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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Um homem que se adaptava


Ouço passos na escada, antes da porta abrir meu sentinela Fofo põe se a latir, se balançar o rabo? Amigo, permaneceu bravo e latindo, desconhecido ou ex-amigo, o Fofo não erra! Essa é a maneira adaptada de receber pessoas em minha casa, impossibilitado de atender à porta e responder um chamado, meu amado cãozinho faz à triagem para mim.

Desde 2014 tenho iniciado em minha vida o modo: adaptação continua, no início escrever, manusear talheres e etc, colapsou à direita, então usemos à esquerda! Por um tempo valeu esta máxima. Posteriormente adaptações para dirigir, depois como passageiro e atualmente em nenhuma posição, pois existe um “abismo”entre minha casa e a garagem, uma escada! As pernas que pedalavam quilômetros e me levaram ao cume das montanhas mais altas da Mantiqueira, em 3 anos foram inutilizadas por esse mau silencioso e traiçoeiro, que segundo à medicina, ‘habita’ em meu sistema nervoso central, um ‘cupim invisível’ que vai destruindo meus neurônios motores, deixando esse rastro de imobilidade e dor. De um simples gole de Coca Cola, deitar-se para dormir e escrever estas palavras; alguns exemplos de uma rotina de adaptações; e para aqueles mais fortes espiritualmente, que ainda conseguem, até cultivar à FÉ passa por esse processo, adaptar-se ou extinguir-se? E por favor, não julguem! Só quem ‘sobrevive’ e convive diariamente com esse mau sabe. Ainda mais trágico! Existe um prazo de validade para as adaptações, elas cessarão. Quem tem sobrevivido dia após dia com essa trágica doença descobriu, de forma dolorosa, que à sua qualidade de sobrevida, a partir daquele triste dia do diagnóstico, está diretamente ligada à capacidade de adaptações, que você, família e amigos poderão fazer à essa trágica realidade. Esperar um acompanhamento sério e humanizado, por parte da atual rede de assistência médica brasileira ( minha experiência em SP, Hospital de Clínicas FMUSP e Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual IAMSPE), grande UTOPIA. Quem apresenta uma melhor condição financeira conseguirá, por mais tempo, converter dias ruins em suportáveis, se não és agraciado e depende da assistência social, infelizmente no meu Brasil, amargaras ainda mais, pois a visão humanitária e solidária dessas instituições é CEGA.

Somos um pelotão de ‘soldados feridos’ adaptando-se à inadaptável vida que nos foi imposta por circunstâncias obscuras e desconhecidas pela Ciência.

Sigo cantando (enquanto é possível) canção da Plebe Rude: “Até quando esperar / A plebe ajoelhar / Esperando a ajuda do divino Deus...”

Marcelo F Carmo

19/09/2018



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