Pra mim essa “viagem no trem da vida” começou em 1974, no início éramos cinco, viajamos por vários anos sem grandes tribulações, com o passar dos anos vários embarques definitivos e transitórios foram observados, da mesma forma os desembarques, com a particularidade da parada definitiva na Final Station (morte), destino que cabe a todos nós. Destaco nessas chegadas e partidas a inclusão da minha esposa lá em 1989 e a partida do meu pai em 1994. Pensar essa viagem iniciada na home station (nascimento) e findando na Final Station (morte) e à forma — dita natural — simplificada de enxergarmos a vida, no ano de 2014 fui apresentado a um — existem inúmeros — dos estágios intermediários dessa viagem, amyotrophic lateral sclerosis station (estação ELA), segundo os especialistas médicos à penúltima estação, daqui só seguimos para a Final Station — frase do médico que fechou meu diagnóstico : “Prepare-se! Dias piores virão!”
Passando pela penúltima estação assistimos o trem da vida passar, aqueles que podem evitar passar por aqui e dar um “salve”, evitam, por aqui os degraus tornam-se intransponíveis, falar, respirar, ficar de pé e caminhar, com o passar dos anos tornam-se impossíveis. O tempo de permanência por aqui é variado e a manifestação dos sintomas, personalizados, mesmo diante dessa trágica realidade alguns brasileiros se destacam à frente de projetos de mobilidade, comando do exército brasileiro, disputando vaga no congresso nacional, escrevendo livros e etc, alguns exemplos de superação humana que conseguem se motivar e agarrar-se ao “trem da vida”, na esperança de contrariar as palavras, nem sempre sensíveis, dos médicos especialistas.
Continuo aqui, passaporte na mão, à espera de um “carimbo” que permita uma continuidade na viagem no trem da vida. Assim como está na Bíblia: “Então veio a palavra do Senhor a Isaías, dizendo:
Vai, e dize a Ezequias: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que acrescentarei aos teus dias quinze anos.” Isaías 38:4-5
Uma segunda chance como a do Rei Ezequias, esse é o Clamor de quem desembarcou na amyotrophic lateral sclerosis station. E ainda consegue cultivar cultivar à fé nesta remota possibilidade. Eu já não mais.
Marcelo F Carmo