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  • Foto do escritorMarcelo F Carmo

Minha marcha fúnebre


Não é sempre que a realidade é bem aceita nas relações humanas. São inúmeras as situações de degradações físicas e sociais que — seguindo o senso comum — não devem ser compartilhadas, pois isso é visto como baixa autoestima ou pessimismo exagerado. Mas sejamos verdadeiros, existem situações que não melhoram e com o passar do tempo, só pioram, e quando somos indagados: “está melhor?” — à única resposta possível é: “não!” — Existem imposições a serem vividas que não têm entendimento, é só esperar pelo desenlace final, que é a morte. Mas é proibido falar ou escrever sobre estas realidades? Machuca os ouvidos? Fingir que tudo vai dar certo faz bem pra quem? Não sou o primeiro a escrever sobre tais angústias, mas estou entre os poucos que não se baseiam na experiência alheia ou ficção, os meus relatos são em primeiro plano. Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas inicia o livro com um agradecimento aos micróbios que irão consumir os restos mortais do protagonista e finado Brás Cubas, assim como os meus e os seus, toda a narrativa se baseia a partir da ótica de um cadáver. Em outra leitura machadiana me deparo com este relato: “A morte que vinha de meses, era daquelas que não acabam mais, e moem, mordem, trituram a pobre criatura humana.”— Marcha Fúnebre conto do livro Memórias da Casa Velha. Tá aí uma descrição ficcional, mas não menos visceral que à minha, pois mesmo sendo ficção, ficções não nascem do nada, um escritor se baseia em suas experiências vividas em primeiro ou segundo plano, e tratando de Machado de Assis um exímio observador e narrador de comportamentos humanos, é uma ficção recheada de realidades.

Existem situações humanas que trituram o ser — meio — vivente em pedacinhos miúdos e dolorosos que não permitem mais tais hipocrisias em falácias pseudo-espirituais ou não. É só à verdade nua e crua da situação vivida seguida do sublime silêncio, pois não há fé ou otimismo que valha mais do que o silêncio sincero de quem compartilha de nossa insignificância e fragilidade perante a vastidão do universo. Ouçamos o silêncio que nos abraça.


Marcelo F cARMO

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