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Finitude

  • Foto do escritor: Marcelo F Carmo
    Marcelo F Carmo
  • 20 de fev. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 29 de nov. de 2020


Não tenho mais os aliados que me ajudavam lidar com essa certeza. Certeza essa, que quando a vida é plena, trata-se apenas de uma hipótese hipotética. As bases que sustentei por longos anos, a mesma que conforta um número significativo de seres humanos, o senso comum de que estamos a mercê de um mentor, que distribui alegrias e desgraças personalizadas.

Fico daqui ouvindo uma igreja que é minha vizinha barulhenta, é aquela gritaria, músicas, que até seriam envolventes, se eu ainda estivesse no senso comum, ou, cultivasse ainda, uma conexão forte com os mitos criados em minhas fracassadas experiências. Não tenho propriedade para descrer de nada e de ninguém. Mas fazendo uma análise fria e ao mesmo tempo desesperada, e que fique claro, não é apego à vida, mesmo porque não sei se dá pra classificar isso como vida, como é que eles, à igreja, estão nessa unção; consagração, não lembro mais qual o nome dado pra estas manifestações, e eu daqui ouvindo tudo e continuo nessa angústia! Quando é que farei parte dessa conexão? Não tenho essa prepotência de querer ser atendido em preces que fiz um dia, mesmo porque acho que falei sozinho — meus episódios de insanidade e presunção.

Como é que ficam esses milhões de condecorados pelos inúmeros tentáculos da dor e sofrimento? Que aprendam lidar com suas angústias e se quiserem e ainda puderem, podem tentar se agarrar a rabeira do bonde da esperança! A ideia da finitude já não me abala, o que me abala é essa sequência com ausência de plenitude. A ideia do fim, tem trazido pra mim, um certo conforto, e não é a ilusão que por muito tempo acreditei, de ter uma sequência, sendo boa ou ruim. A ideia de fim, nessa altura e conjectura da vida, chega ser um alívio, pois eternidade sem neurônios motores, com fome, guerras, perdas consecutivas de pessoas amadas e outros sofrimentos que não sei descrever, não é exatamente o que nenhum ser humano, que não tenha medo de falar a verdade e nem tão pouco assumir suas fragilidades, almeja para essa ou outras vidas. Numa vida sem plenitude, o meu graças a deus de alívio, é poder contar com minha única e palpável certeza, minha finita finitude.


Marcelo F Carmo http://wix.to/NMAmCSI

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