Essa é uma lembrança forte que tenho do meu pai. Não! ele não era pedreiro de ofÃcio, mas se arriscava em pequenos reparos em nossa casa. Tinha um ritual metódico para fazer à massa, sempre delegava a um de nós — os filhos — ajudá-lo, primeiro peneirava — calmamente — à areia, usava à enxada ou até mesmo à colher de pedreiro — em reparos menores — para fazer uma montanhazinha de areia, depois vinha com o cimento e despejava no cume e ia misturando à areia e o cimento, puxando sempre pelas beiradas para o centro, o ponto ideal — como quase tudo que fazÃamos — era no olho (proporções e medidas?! coisa pra amadores). À mistura ganhava uma cor acinzentada. E aà chegava o meu momento preferido, ele abria uma fenda no cume da montanha — um laguinho aberto com delicadeza —, momento tenso e de mais atenção, eu ia, com cuidado adicionando água no laguinho e meu pai puxando das beiras pra dentro, sem exagero, pro laguinho não estourar. Quando ele percebia algum pequeno vazamento, rapidamente jogava massa seca para à contenção. Com fina habilidade meu pai chegava à uma consistência homogênea e com poucos vazamentos pelas beiradas.
A contenção dos pequenos vazamentos a fim de evitar catástrofes — ainda — maiores. As poucas vezes que fiz massa tentei imitá-lo. Não me sai bem. Também falhei em outros experimentos análogos, por imprudência e outras — à maioria — porque não é mesmo possÃvel à contenção, estourou, simplesmente estourou, não existe como conter. Pérdesse toda à massa e fica por isso mesmo.
Marcelo F Carmo