Uma série de eventos desse mundo contemporâneo obedecem ciclos de 4 anos: olimpíadas, copa do mundo, eleições, mandatos de políticos, etc. A vida caminhando no automático, o encerramento e início desses eventos, muitas vezes, são vistos como certos, tanto pra quem está diretamente ligado, quanto para os expectadores. No ano de 2014 tivemos Copa do Mundo de futebol no Brasil e eleições presidenciais, participei efetivamente dos dois, no primeiro sem muito entusiasmo, apenas usufruindo das saídas antecipadas do trabalho nos dias de jogos, já as eleições estive diretamente envolvido, militando e torcendo para um dos candidatos e também trabalhando no dia do pleito pela justiça eleitoral. Agora passados 4 anos, mais um ciclo concluído, muita coisa mudou, positivamente e negativamente, no futebol perdemos mais uma copa, mas isso é irrelevante pra minha vida, apenas business, na política quem era vice tornou-se presidente, quem foi deposta, já superou a fase ruim, estava na ativa nessa eleição, estão se ajeitando, para eles, perdas reparáveis nesse ciclo da vida. Agora em minha história, nada de positivo, um dos piores ciclos, nesses últimos 4 anos, após ser diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica ELA, a vida virou de ponta cabeça, e não é nenhum exagero, perdendo minha vida em vida, sim! Assim mesmo. Lá em 2014; copa do mundo de futebol, eleições presidenciais, estava no modo automático da vida, nem imaginava o ciclo duríssimo que se instauraria em minha vida. Entre uma copa do mundo e outra, minha vida desceu ladeira abaixo de forma vertiginosa, hoje sobrevivo única e exclusivamente, pelo amor, solidariedade e carinho de minha esposa, que abdicou de sua vida profissional para cuidar de mim. No intervalo entre duas copas do mundo muitas coisas podem ocorrer, a nossa fantasiosa imaginação sempre olha pra cima, mas a realidade é outra, esses pensamentos não passam de ilusões, tudo pode acontecer, e o desagradável é de uma criatividade ímpar. O Brasil perdeu a copa do mundo de futebol, minha candidata ganhou as eleições presidenciais, o Brasil ganhou número recorde de medalhas de bronze — também vale, se fossem de ouro tanto faz —, isso tudo é supérfluo ante a ameaça de uma vida plena. Depois de 2014 meus ciclos azedaram, fatores irreversíveis e progressivos não deixaram espaço para eventos dessa estirpe.
Hoje não me atento mais a essas distrações gostosas da vida, tudo ficou muito mais chato.
Marcelo F cARMO