Não foi sempre assim, antes do Zolpiden e Tramadol fazerem efeito já fiquei aqui de olhos fechados, me escondendo de mim, e os pensamentos à mil por hora nas diversas formas que aprendi de clamar a um deus que tudo sabe e que tudo vê, nunca vi ou senti nada de especial, os medicamentos faziam suas tarefas e me adormeciam. O ritual de uns anos pra cá tem mudado, já não viajo em minhas orações inócuas e solitárias, conto com meus dois amenizadores de dores e vou ouvindo o inspira e expira do Bipap, que vai ficando distante como o som de um veículo que vai se afastando de mim e daí em diante já não posso mais descrever, durmo...
Passados dez ou onze horas de descanso, sou desconectado do respirador e levantado por minha esposa, que cuida de mim com muito amor, carinho e de forma ininterrupta, essa noite foi boa; nenhuma intercorrência. Depois de higienizado, cabelo e barba penteados, com a doce companhia de minha esposa, meus filhos e nossos gatos — Mia, Nina, Ricotta, Torrada, Máju, Grandão, Madalena Pancinha, Lola e Marêu (caçulinha) — e nossas cachorras — Billu e Zoé —, um banho de sol e iniciamos a seção de leitura ao som de boas músicas. Já já chega à hora de dormir novamente, meu morrer provisório.
Marcelo F cARMO